9.3.11

Relação Mãe - Bebê

Relação Mãe - Bebê  
 http://bbel.uol.com.br/upload_2009/conteudo/mae_bebe1_25911015453931.jpg
Silvana Sacharny
 
"Françoise Dolto: "Cada um de nós, ao nascer, é a linguagem do desejo dos pais". 
 

As circunstâncias em que uma nova vida se cria; a concepção, a vivência uterina e o nascimento são os primeiros indicadores do processo de desenvolvimento dessa vida.
Desde a concepção até o nascimento, o bebê está numa relação simbiótica com a mãe, nesse estado se encontram todas as potencialidades do seu "vir a ser", fixadas nos seus genes; a memória da evolução filogenética do homem e a sua constelação individual (a herança da sua ascendência direta, o patrimônio genético dos pais).
Partindo da unidade corpo-psiquê, desde a concepção de uma nova vida, não se poderá mais considerar essa nova vida à distância, mas pensar esta vida que se anuncia em todas as suas potencialidades. Representa um ser que pede para ser reconhecido, encontrado e amado.
Muito cedo, trocas importantes intra-útero se estabelecem entre a mãe e o seu bebê, a vivência no período pré-natal imprime no ser o que podemos chamar de memória sensorial.
A partir da natureza orgânica, a mulher ( em condições normais) pode receber a nova vida, fazê-la amadurecer e sustentá-la afetivamente. No estado de fusão orgânica, a gestante percebe o bebê praticamente o tempo todo, porém sentir a movimentação não é suficiente para de fato estar em contato com a sua gestação. A construção da função materna se inicia nesse período, é fundamental a vivência de sua capacidade receptiva, o aprofundamento da qualidade de contato afetivo. Faz-se necessária a integração entre a disponibilidade psíquica e corporal para que a mulher possa percorrer uma trajetória ambígua de afetos, de sensações, e expandir sua consciência corporal feminina. Desta forma, as condições para um bom parto e nascimento são bastante favorecidas.
Desde as primeiras horas de vida o bebê é um ser de comunicação. O desenvolvimento do bebê, através da comunicação sensorial ( auditiva, visual, olfativa, gustativa e tátil) é favorecido pela forma com que a mãe o estimula, carrega, assegura e escuta na expressão de suas necessidades, de suas mensagens. A comunicação se estabelece na origem através da linguagem corporal, a função psíquica se apóia e se desenvolve a partir da vivência corporal.
Na relação original mãe-bebê, o contato útil da mãe no bebê tem como funções: a estimulação orgânica (favorecer o deslanchar de atividades novas como a respiração, a excreção-digestão e as defesas imunitárias), a comunicação afetiva ( instaura o sentimento de segurança, confiança, proteção, reconhecimento da existência ) e prepara o acesso à linguagem.
Esse contato conduz o bebê, aos poucos, a diferenciar uma interface-como uma membrana - que permite a distinção do externo e do interno, trazendo a experiência de um continente. Esta vivência, no quadro de uma relação segura, garante ao bebê a integridade do seu envelope corporal.
A pele é o mais extenso órgão dos sentidos do corpo, e o sistema tátil é o primeiro sistema sensorial a se tornar funcional. Didier Anzieu nos fala sobre o "Eu - pele" baseado na importância da integridade do envelope corporal; elemento ao mesmo tempo de ordem orgânica e fantasmática, que visa a envelopar o aparelho psíquico e exerce a função de continente. Esta função é desenvolvida através de cuidados maternos, com toques investidos de afeto. A sensação-imagem da pele como um saco é estimulada através desses cuidados com o corpo do bebê, apropriados às suas demandas.
A tendência do desenvolvimento afetivo é a passagem do estado de indiferenciação ao registro da diferenciação. O bebê evolui de uma dependência absoluta em direção a uma dependência relativa, depois para a autonomia. Aos poucos, uma fronteira se cria separando o interno do externo; a integração e o sentimento de unidade se posicionam.
A relação original mãe-bebê se dá igualmente através de outros mediadores da comunicação, tais como o envelope visual ( a partir do contato visual) e o envelope sonoro ( a partir do "banho" de palavras, cuja tonalidade da voz materna, seu ritmo, provoca no corpo do bebê uma ressonância tônico-emocional que vai, aos poucos, preparando e estimulando a criança na sua própria expressão verbal).
A função tônica do corpo é também uma função primitiva e essencial de comunicação, de troca. O corpo do bebê, através de suas manifestações emocionais, estabelece com o ambiente que o envolve um diálogo tônico. O tônus muscular é a qualidade de tensão involuntária que expressa os diferentes afetos. O estado tônico é um modo de relação. A tonicidade ou a vivência tônica é ligada inseparavelmente à vida afetiva original do bebê, é o tecido com o qual ele se liga ao mundo e primeiro à mãe. O espaço postural do bebê se enraiza no espaço corporal da mãe. Os movimentos expressivos que traduzem conforto/desconforto, demanda/satisfação, prazer/desprazer, vão se moldar, criando um código corporal, em função das reações corporais positivas ou negativas do meio maternal.
Quando estas funções são preenchidas de forma satisfatória, o bebê se sentindo compreendido e atendido nas suas demandas, pode então construir um envelope de bem-estar, narcisicamente investido.

Setembro 1988.

Bibliografia:

1. Wallow Henri - "Les origines du caractère chez l'enfant" ( Quadrige/PUF)
2. "L'être touché, psychothèrapie et toucher" - Adire n.6 avril, 1991 - Revue d'Analize Psycho-Organique
3. Anzieu Didier - "Le moi-peau" - Dunod. 1985
4. Mantagu Ashley - "Tocar - O significado humano da pele" - Summus Editorial

Resumo do currículo da autora:
Psicóloga com formação em psicoterapia corporal em Análise Psico-Orgânica pela Escola Francesa de Análise Psico-Orgânica e especialização em Psicologia Clínica pela Universidade Sorbonne - Paris. Atua na área clínica e desenvolve um trabalho com gestantes. É colaboradora na Formação de Base de Psicoterapeutas em Análise Psico-Orgânica no Rio de Janeiro.
 

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